Estudos advertem: dar risada pode ser prejudicial à saúde
Postado por:UOL.com.br emBrasil 31 | 12 | 2013 - 6:15:31 0
Bem a tempo de proteger os pacientes dos perigos do excesso de
alegria no fim do ano, uma nova revisão de pesquisas acadêmicas publicada em
uma revista médica britânica descreve os efeitos
negativos da risada.
Entre os alertas divulgados: a força do riso pode deslocar
mandíbulas, propiciar o surgimento de hérnias e causar ataques de asma e dor de
cabeça. As risadas podem causar arritmia cardíaca, desmaios e enfisema (esse
último, de acordo com um estudo publicado em 1892).
Revisão
A análise, intitulada “Laughter and Mirth (Methodical Investigation of
Risibility, Therapeutic and Harmful)” (O riso e a investigação metódica da
risada terapêutica e prejudicial, em tradução livre), recorreu a cerca de 5.000
estudos. Ela foi publicada na revista BMJ, antigamente conhecida como The British Medical Journal, que publica há muito tempo
artigos com pesquisas minuciosas sobre assuntos divertidos nas edições de fim
de ano. O subeditor da revista, Tony Delamothe, afirmou que o estudo foi
revisado por pares – provavelmente por um médico com o senso de humor cuidadosamente
controlado.
Este ano, a edição de Natal também inclui os artigos: “Were James Bond’s
drinks shaken because of alcohol induced tremor?” (Os drinques de James Bond
eram batidos por conta de tremores causados pelo alcoolismo?), “The survival time of
chocolates on hospital wards: covert observational study” (O tempo de
sobrevivência dos chocolates nas alas hospitalares: um estudo observacional
secreto), e “Operating room safety: the 10 point plan to safe flinging”
(Segurança na sala de operação: um plano em 10 passos para um arremesso seguro),
que apresentava precauções como: “Antes de arremessar, identifique o alvo e a
área atrás dele”, e “nunca arremesse um instrumento para o alto”.
Na primavera passada, os coautores do estudo, Robin E. Ferner,
professor honorário de farmacologia clínica na Universidade de
Birmingham, e Jeffrey K. Aronson, associado de farmacologia clínica em Oxford,
especializado no estudo dos benefícios e malefícios de remédios, conversaram
sobre qual relação de dano e benefício poderiam explorar para conseguir a vaga
disputada na capa da edição de Natal da BMJ. De acordo com Delamothe, o BMJ
recebe quase 120 artigos e aceita em torno de 30.
Ferner e Aronson pensaram em alimentos de fim de ano, por exemplo, mas
suas preferências eram muito diferentes. “Ele gosta de vinhos doces, eu prefiro
os secos”, explicou Ferner. Então os dois encontraram uma causa em comum, “já
que nós dois gostamos de um humor sardônico”.
Eles limitaram os artigos que mencionam o riso a um total de 785,
colocando-os em três categorias: benefícios (85), danos (114) e condições que
causam riso crônico (586).
A questão chegou em boa hora, argumentaram, já que o BMJ não havia
abordado o riso de forma séria há mais de um século. Em 1898, a revista havia
publicado o estudo de caso do ataque cardíaco de uma menina de 13 que riu por
tempo demais. No ano seguinte, o problema do riso foi levantado novamente
quando o autor de um editorial escreveu em resposta à sugestão de um médico
italiano de que as piadas poderiam ser usadas como tratamento para a bronquite,
propondo um o termo “gelototerapia”. (Gelos era o deus grego do riso; em
italiano, gelato significa sorvete.)
Demorou até que o riso ganhasse força como terapia: Em 1928, a revista
científica The Journal of the American Medical
Association deu pouca atenção ao livro de James J.
Walsh, “Laughter and Health” (Riso esaúde, em tradução livre).
Os danos, no entanto, foram observados com atenção. Uma discussão
publicada em 1997 sobre a síndrome de Boerhaave, uma perfuração espontânea do
esôfago, um evento raro e potencialmente letal, mencionou ser o riso
uma de suas causas comuns.
Além disso, existe também a misteriosa síndrome de Pilgaard-Dahl,
identificada em um artigo de 2010 como um pneumotórax induzido pelo riso que
afeta homens fumantes de meia idade. O nome é uma homenagem aos comediantes
dinamarqueses Ulf Pilgaard e Lisbet Dahl.
“Não acredito que dinamarqueses sejam terrivelmente engraçados e depois
de assistir algumas de suas apresentações no YouTube, continuo
sem acreditar, embora eu obviamente não fale dinamarquês”, afirmou Ferner.
Existem outras ameaças respiratórias causadas pelo riso, afirmou. A
ruptura dos alvéolos (pequenos sacos de ar dentro do pulmão, que geralmente
contem cerca de 600 milhões cada): “Se você fizer uma pessoa asmática rir com
vontade é melhor que eles estejam com um inalador ao lado”, afirmou Ferner.
(Isso com base em 1936 experimentos em torno do mecanismo do riso em pessoas
asmáticas.)
Além disso, há o perigo de engasgamento, como durante a ingestão de
alimentos durante risadas intensas.
Custo-benefício
A análise adotou uma abordagem equilibrada e de custo-benefício em
relação ao riso, dando destaque às vastas evidências de seus efeitos salutares.
Concluiu-se com ela que os benefícios do riso incluem a diminuição da raiva, da
ansiedade e do estresse; uma queda na tensão cardiovascular, na concentração de
açúcar no sangue e no risco de infarto do miocárdio. “O equilíbrio entre os
benefícios e os danos é provavelmente favorável”, afirmam os autores.
Estudos recentes concluíram que o riso “reduz a arteriosclerose” e
“melhora a função endotelial”. Além disso, um estudo realizado em 2008 com
pacientes portadores de doenças pulmonares obstrutivas crônicas concluiu que o
riso inspirado pelo palhaço Pello ajudava a melhorar a função pulmonar.
A ajuda de palhaços foi observada e adotada pela medicina, mas um estudo
deixou Ferner de queixo caído. Um estudo de fertilidade realizado em 2011
relatou que quando um palhaço vestido de chef de cozinha divertia as candidatas
a mamães por 12 a 15 minutos depois da fertilização in vitro e da transferência
dos embriões, a taxa de fecundidade era de 36%, se comparada aos 20% entre o
grupo de controle que não foi animado pelo palhaço.
“Por que um chef de cozinha?”, questionou Ferner sem entender.
Apesar dessa observação ampla da literatura médica sobre o riso, Ferner
sentiu que ainda havia um território mal explorado. “Não sabemos até que ponto
o riso é seguro. Provavelmente existe uma curva em forma de U: o riso é bom para
você, mas em quantidade extrema ele talvez faça mal. Mas isso não chega a ser
um problema na Inglaterra”, afirmou.
Ainda assim, se você deseja acompanhar a análise do riso ou outros
estudos publicados nas edições de Natal da BMJ, o risco de uma crise de riso –
desde risadinhas, a suspiros e gargalhadas – pode ser perigosamente alto. Não
diga que não avisamos.
Postado por Pr. José das Graças Silva Oliveira