DIÁLOGO DA BATERIA COM O BATERISTA
PR. JULIO OLIVEIRA SANCHES
Era uma bateria usada, sofrida pelo tempo, cansada de apanhar. Todos que se aproximavam davam-lhe pancadas. Até as crianças de tenra idade adoravam bater
na pobrezinha. Um pequeno descuido dos pais, e, lá estavam os pequenos impondo-lhe sofrimentos.
Em algumas igrejas, cercaram-na com redoma de acrílico para que seu barulho não se propagasse. Mas as pancadas continuavam as mesmas. Fortes, sem ritmos, sem pauta musical, sem piedade. Mudavam-se as músicas, os ritmos dos que cantavam, mas, o baterista continuava do mesmo jeito, sufocando-a impiedosamente.
Cansada de levar pancadas e verificar que ninguém, dava importância ao seu labor sofrido, resolveu reagir. Um dia ouviu que uma mula falou com um sujeito rebelde. O
tal de Balaão, que nome! Era intragável e teimoso. Mesmo contestando a burra, continuou seu caminho de desobediência. Pelo menos a mula transmitiu a sua mensagem de repúdio ao teimoso e renitente Balaão.
Quem sabe o baterista não seja tão teimoso, pensou. Após analisar os prós e contras, resolveu falar.
Afinal suas irmãs, nas grandes e sofisticadas orquestras eram tratadas com carinho
especial. Os bateristas usavam partituras, algumas de difíceis execuções. O mais
importante, ao serem tocadas não cobriam os sons dos violinos e oboés. A harmonia era perfeita e gerava nos ouvintes sentimentos de alegria e gratidão.
Assim um dia, numa Convenção religiosa, reuniu as forças que lhe restavam e confrontou o seu agressor. Mandou-lhe a primeira pergunta. Como não recebeu
resposta, acrescentou-lhe outras. Em suma: desabafou. Por que você me bate com
tanta força? Por que não me toca, apenas? Por que você não usa partitura? Toda canção tem uma partitura, que estabelece o ritmo, o tempo e a intensidade das notas.
Ah! Você não sabe o que significam notas musicais, mas quer tocar bateria? Entendi! Não sabe ler as notas musicais? Nesse caso seria interessante um curso de
formação musical. Uma iniciação musical que o leve a saber porque existo. Enquanto me bate com tanta força, alguma vez já levantou os olhos para ver as expressões
faciais das pessoas? Veja aquela anciã. Veja o seu cenho carregado. Os sons que
chegam aos seus ouvidos são insuportáveis. É claro que você nunca leu, jamais
estudou, tampouco se interessou em saber o que ocorre nos tímpanos humanos.
Deus criou o ser humano e estabeleceu limites de acuidade. O máximo que uma
pessoa normal pode suportar são setenta decibéis. Ah! Você é ignorante mesmo.
Não sabe o que significa decibéis. DECIBEL: Unidade que serve para avaliar
a intensidade do som; um décimo do Bel, 1Bel=1dB, referência de dimensão aplicada aos sons. Claro você não entendeu nada!
Na sua fúria de aparecer, você me leva a produzir mais de cem decibéis, em cada
pancada. Algo insuportável ao ouvido humano. Você nunca notou que empregados de grandes fábricas usam protetor auricular? Mesmo assim são levados a aposentadoria antes do tempo, vítimas que são da surdez. O ser humano não foi criado para o barulho. Observe a natureza. Seus sons são suaves.
Ah! Você está se espelhando naquelas duplas e solistas que vivem em disputa para
ver quem grita mais alto? Tenho certeza, que se fossem mais melodiosos e suáveis,
venderiam mais. Há muitos que abandonam o auditório quando eles “cantam”, ou
melhor, gritam. Mas, querido algoz, não basta olhar apenas o semblante da anciã. Veja as crianças que colocam as mãos nas orelhas, tentando abafar o som. Significa que você ultrapassou os limites determinados pelo Criador do ouvido. Veja como as pessoas enrugam as testas. Significa mecanismo de defesa.
Tudo isso poderia ser evitado se você, baterista, me tocasse usando uma pauta musical, uma partitura e conhecesse os mistérios da boa música.
Desculpe o meu monólogo, continuou a bateria. Afinal, você não respondeu.
Você me ouviu, ou está surdo? Sim, eu sei que você e sua geração estão perdendo a
capacidade de ouvir. É triste!
Caso todas essas questões não sirvam de despertamento para uma produção musical melhor, faço-lhe um último apelo: Diga aos organizadores de Convenções, Congressos, dirigentes de louvor, líderes de igrejas, que providenciem protetores auriculares para os ouvintes.
Por favor, toque-me, não me bata com tanta força. Sou frágil. Estude música. Faça
um curso e aprenda a tocar bateria. Eu agradeço e os ouvintes também agradecem.
Fonte: www.pastorjuliosanches.org
Divulgaçao: Esta postagem está em O Jornal Batista de 25/08/2013, que já está circulando
Postado por Pr. José das Graças Silva Oliveira
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