Uma breve reflexão sobre o Gospel

O projeto Gospel da indústria se perfaz na transformação de fiéis em nichos de consumidores fiéis, é a invenção de uma cultura comercial que tem como maiores expoentes falsos adoradores agrupados em ridículos espectros de bandas americanas deploráveis. Gospel não é proposta artística que surge para atender necessidades estéticas imanentes ao homem. Nesse sentido, podemos considerar apenas que sua natureza é, digamos, antropofágica, porque se nutre essencialmente de apropriações e empréstimos da cultura pop, mas como toda proposta pop, culmina na elaboração de marcas e produtos.
Na nova ordem Gospel não há mais espaço nas igrejas para os cânticos dos hinários e suas feições de construção coletiva. O louvor Gospel é publicitário, articulado à consolidação de grandes selos fonográficos. O caso brasileiro é especial, com algumas peculiaridades, por que não dizer, tropicais. É curioso observar que, no Brasil, quando Deus suscita um grupo de adoradores para promover um grande avivamento espiritual através do louvor, Deus nunca os recruta no semi-árido, há sempre por parte de Deus uma predileção pelos grupos e bandas dos grandes centros econômicos do país, mais especificamente, por grupos e bandas do centro-sul, região geoeconômica industrializada. Talvez Deus também goste de praticidade.
Longe de ser um movimento de afirmação de valores cristãos, Gospel é a transformação de pequenos ministérios eclesiásticos locais em corporações globalizadas, é a transformação de cantores dominicais em celebridades milionárias e idolatradas. Gospel é uma ética de consumo, é a capitalização de um gigante que, outrora em repouso, desperta com uma fúria voraz. Gospel é uma proposta de requalificação e reciclagem à qual todos os cultos evangélicos são constrangidos a aderir. É a igreja convertida em agências de pseudo-talentos com vocação e carisma para reunir atrás de si um séquito de imitadores, de senso-crítico completamente embotado, dispostos a seguir modelos de comportamento e consumo propagados pelo ícone. Gospel é um ideal de novo espírito cristão integrado a boutiques, a falsas noções de juventude e modernidade, a festivais patrocinados por operadoras de telefone celular e fábricas de refrigerantes. Gospel é o culto à pessoa, é a admiração degenerada em idolatria.
Gospel quer dizer tudo. Quer dizer o fim de igrejas batistas e presbiterianas tradicionais e de seus cultos sóbrios. Gospel é a Besta que emerge do Marketing.
Fonte: Israel Pinheiro em Só Artigos
Postado por Pr. José das Graças Silva Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário